28 de mayo de 2005

In the Dress for love


Eu só estou aqui para contrastar com aquele cor-de-rosa fora de foco lá do fundo

Só ontem vi o Amor à Flor da pele (In the mood for love), do Wong Kar-wai, o mesmo de Buenos Aires Affair (Felizes Juntos). Dizer que a história é triste, angustiante, que os diálogos são quase inexistentes, que a fotografia é perfeita, que o Amélie Poulain copiou todo o esquema de cores daqui, é chover no molhado. A iluminação é estilizada e claustrofóbica, como uma propaganda de cigarros com bronquite.


Sinto-me um banheiro velho com esta roupa

O tipo de vestido -- china dress, em inglês, e cheongsam, em chinês - que Maggie Cheung (tão bonita, elegante e graciosa que tira o fôlego) usa no filme são a representação da mulher chinesa -- ao mesmo tempo sensual e recatada. Os vestidos são usados como uma metáfora para a repressão sexual dos anos 60: as golas altíssimas sufocam a mulher. A prórpria atriz, Maggie Cheung, declarou que a princípio se sentia com os movimentos tolhidos, incapaz de atuar livremente. Como o filme demorou muito para ser feito e a história muda de rumo várias vezes antes da versão final, Cheung apenas vestia-se e a personagem imediatamente se manifestava. Hitchcock usava da mesma técnica, com seus tailleurs cinza, tornando suas personagens angustiadas, tolhidas, enjauladas.

A cada cena esperamos ansiosamente qual a padronagem que a Senhora Chan usará. Alguns vestidos contrastam com o cenário, outros combinam perfeitamente. Talvez o mais incrível seja um branco, um pouco transparente, com pequenos poás também brancos, que a protagonista usa quando a senhora que lhe aluga o quarto lhe diz que ela sossegue o facho e pare se dar voltas por aí -- momento em que sua vida paralela fica transparente como o seu vestido (e nós, espectadores, sentimo-nos tão nus quanto a personagem).


Tony Leung, também protagonista de Felizes Juntos

Tony Leung foi considerado melhor ator em Cannes, no ano de 2000, por este filme. Não é para menos. Ele está ainda melhor, mais atormentado, com mais culpa, que em Happy Together.

Altamente recomendado.

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