Recuerdos de un Coco Loco

Na esteira do sucesso de Memórias de uma Gueixa.

Muito antes de eu saber que David Bowie era o camaleão e que Madonna mudaria tanto o seu visual, meu tio foi o primeiro camaleão que eu conheci. Eu só via meus tios muito esporadicamente.

Talvez a minha primeira lembrança dele seja de uma festa em Porto Alegre. Eu deveria ter uns cinco ou seis anos. Esse meu tio, irmão mais novo do meu pai, parecia uma figura que muito me impressionava nas noites de domingo no Fantástico – Ney Matogrosso. Magro, peludo, roupas artesanais, anéis (muitos), colares de contas, couro e até algumas penas.

Na próxima década, minha avó disse que meu tio era dark (what? Tem avó que é cega). Ele se vestia todo de preto, capas longuíssimas, broches de strass e, acreditem, perucas e apliques. Ficava uma coisa meio The Cure encontra a versão Arcadia do Duran Duran, dublando Siouxsie.

Logo em seguida, ele havia largado o preto profundo, o delineador, base muito clara e batom vermelho sangue e havia caído de cabeça em uma tina de descolorante. Uma coisa Erasure: we”ll be together again...

Depois, ele virou designer de muóda. Eu lembro que ele usava calças justas jeans e camisas Enormes, se não estou enganado ele trabalhava na Tchóin.

Casou com uma bailarinA (o Gugu também casou). Separou-se.

Nunca mais vi.

Um dia, eu estava com a minha mãe, já separada há muito tempo do meu pai, em uma daquelas feiras de artesanato em Santa Catarina, ele estava lá vendendo jóias que ele mesmo desenhava.

Parece que até hoje ele continua fazendo jóias em uma praia de Santa Catarina e cuidando da minha avó, que é (ou era) uma megera fortíssima.

Ch-ch-ch-ch-Changes

(Turn and face the strain)

Ch-ch-Changes

Just gonna have to be a different man

Time may change me

But I can't trace time...