20 de abril de 2006

Family Affair


Na sexta-feira santa, eu fui para Gramado. Não pensem que sou mais um gaúcho que foi para lá no feriadão para fundi e fudê, com dia livre pras compras, nada disso. Os meus tios-avós tinham uma casa em Gramado, desde 1977. O que significa que eu fui muitas vezes para lá desde os cinco anos.

Foi nessa casa que eu tive a minha primeira super-reação alérgica a camarão, quase morri. Eu devia ter uns 13 anos. O que são as recordações?!

A minha avó morreu quando eu tinha cinco anos. Desde lá foi a minha tia-avó, irmã da minha avó, mãe da minha mãe, que ocupou o lugar de avó. A mãe do meu pai ainda está viva, aparentemente, mas nunca foi minha avó. O que são os laços de família?

Minha tia-avó já faleceu faz algum tempo e desde então a casa de Gramado perdeu toda a graça. Ninguém aproveitava a casa. A minha família se resume a meia dúzia de 3 ou 4 pessoas e minha tia mora em Belém do Pará, meio longe A casa foi posta a venda.

Agora, uma família nova-classe-média de Gravataí passará finais de semana deliciosos lá. Tenho certeza. Qual a primeira providência deles? Colocar uma cerca! Coisa de gente assustada. Cerca tudo! Grades e cerca elétrica! O que é a segurança?

Como a casa foi vendida, eu fui ajudar a separar o lixo e coisas para dar das coisas que a minha tia, minha mãe e meu tio-avô queriam. Claro, que peguei umas coisinhas para mim. O que são as lembranças de souvenires de família?!

Eu pensei que parte da grana da venda viria muito bem para a minha conta bancária. Sabe de uma coisa? Ah, foda-se a grana! Tem coisas mais importantes que money, por exemplo, eu peguei para mim um gatinho de cerâmica feito pela minha tia-avó, assinado por ela inclusive. Ele certamente iria estar no lixo, mas agora habita a estante aqui de casa. Sou tão sentimental!

Então, mexer nessas coisas que foram da Tia Jura e que fizeram parte da minha vida também foi divertido e ao mesmo tempo penoso.

Minha tia-avó era uma pessoa incrível – ótima cozinheira (minha irmã sonha até hoje com a receita de um pudim de chocolate e mel). E estava sempre se reinventando (muito antes da Madonna), aprendeu a fazer cerâmica já bem velhinha (não sei muito determinar idades) e pouco antes de morrer começou a escrever poesias e deixar pensamentos esparsos no meio de livros, revistas e de receitas de crochê e de comida.

Eu encontrei um desses pensamentos na parte de trás de uma receita e dei para a minha mãe, meio escondido da minha tia. Assim que mami mandar o tal pensamento eu publico aqui. Claro que não podem esperar nenhuma Clarisse Lispector.

1 comentario:

John dijo...

Humm, o que é ter uma tia-avó Madonna-Cora Coralina? Isso tá no sangue, né? Aguardo a divulgação.