Gato no calçadão quente

Sabe aqueles dias em que você está se sentindo um lixo, tipo garbage mesmo? Pois é, a pessoa sai do serviço toda suada e escabelada com dor nas juntas e ainda por cima (e pelos lados) estando acima do pêssego ideal.

Como a fila do bus e da lotação estavam Enormes, paro na minha banca de DiViDis favorita. Nesses dias é bom se permitir um agrado, né Agrado?

A Vera, dona da banca, é uma senhora cheia de filhos e netos, com um olho vazado e muito acima do pêssego ideal. Ela entende de filmes clássicos de Hollywood e fica furiosa com as clientes que querem filme dublado e querem saber se as séries tem fim. A banca fica na esquina da Borges de Medeiros com a Rua da Praia, que é o calçadão daqui -- caso alguém queira clássicos por 5 pilas cada.

Enquanto aguardava a minha vaga para chegar mais perto das pilhas de DVDs (lá também estava cheio de gente), um rapaz vem descendo a rua me olhando firmemente nos olhos. Fiquei intrigado.

O tal não era exatamente bonito, mas bem interessante – 30 e poucos, moreno, entradas, barriguinha, um cara bem normal e agradável. (Ou vocês acham que todas as pessoas que me paqueram na rua são malhadérrimas, bonitérrimas e descoladérrimas? Sorte minha que não!)

Ele passou, eu olhei, ele olhou... Continuei cuidando da minha compra. Levantei a cabeça e não é que o cara estava parado mais a frente. Encarando descaradamente, o cara me olhava bem nos olhos da cara.

Xi, eu pensei, agora ele vai vir falar comigo, quiéquieufaço, Jizus... Eu olhava 20 DVDs e olhava pra frente, mas 20, olhava pra frente, nem sei quantas vezes... e o guri ainda estava lá parado me olhando.

Escolhi Gata em Teto de Zinco Quente, paguei. Quando fiz o pivô para sair da banca, o guri já tinha se cansado de esperar que eu fosse falar com ele – o que não iria acontecer messsmo. Entretanto, essa olhada – gostoso, eu te fazia todo – salvou meu dia.

Foda-se o pêssego ideal!
Foda-se o corte de cabelo ideal!
Foda-se a progressiva!