These are days you’ll remember... ... You’ll know it’s true That you are blessed and lucky (10.000 Maniacs)

Hoje é do dia da Solidariedade. A faculdade onde trabalho preparou uma ação na Vila do Chocolatão, aqui em Porto Alegre. Para quem não é daqui ou não conhece, Chocolatão é o apelido dado ao prédio da Receita Federal e a vila de papeleiros que fica o lado.

O centro administrativo de Porto Alegre fica todo no mesmo lugar, uma parte aterrada do Guaíba, com vista maravilhosa e prédios de inspiração novaiorquina com seus espelhos e torres gêmeas. Muito luxo e muito glamour do funcionalismo público. Bem nesse meio, essa vila se instalou há mais de 10 anos, e hoje conta mais de 1.000 pessoas e 300 crianças vivendo do lixo e no meio do lixo. Volta e meia um barraco pega fogo e todo mundo perde tudo.

Galerinha se alimentando

Já havíamos feito um contato com as lideranças da vila há duas semanas, fomos lá e conversamos bastante. Tanto os professores quanto os funcionários ficaram abismados com a situação em que essas pessoas “vivem” e com a clareza das idéias. Eles sabem que não vão ser incluídos na nossa sociedade, portanto querem melhorar a situação deles, criar uma identidade, fortalecer o orgulho de viver no Chocolatão.

Hoje, distribuímos sanduíches e suco logo que chegamos. Depois, uma das professoras ensinou algumas mulheres a fazer bijuterias com material reciclado. A brigada de incêndio deu dicas para evitar incêndios. Também distribuímos uma sacolinha com guloseimas para as crianças. Preparamos tudo isso na sexta, e vários alunos ajudaram. Foi muito bacana.

Essa colega, que aparece na foto acima, relatou que uma das crianças contou que não tinha mãe e que morava com os avós, chamou-a de princesa e que queria ter uma mãe tão linda quanto ela. Acho que todos ficaram com vontade de levar uma dessas crianças pra casa.

Tia, tira foto! (Bem ao fundo estão as torres gêmeas do Ministério Público Estadual)

O que mais chama à atenção são as crianças, algumas muito educadas, algumas muito bonitas, algumas mais sem vergonha entraram duas vezes na fila, mas todas muito carentes. A carência não só de comida, banho e infra-estrutura, mas de atenção. As crianças adoraram conversar com a gente, contar das suas vidas, tirar fotos (veja a foto) e brincar.

A menina maior, que aparece aqui ao lado da irmã, nos disse que está quase passada de ano e que só tira notas boas, tem 12 irmãos e todos iniciam com a letra F. Ela deu depoimento para o registro da instituição. Uma fofa!

Espero que possamos continuar a fazer esse trabalho que iniciou hoje. Se dependesse somente dos voluntários de hoje de manhã, tenho certeza que continuaria. Não nos sentimos nem um pouco melhores pela ação, acredito, mas todo mundo que voltou pro conforto dos lares voltou um pouquinho diferente.