Face Value
Cecília, a gata aristocrática, quase não tem voz. Mia seguido, mas nada se ouve. Olha para a gente, com aqueles olhos verdes que ela herdou de mim, mia fundo, mas não sai som nenhum da sua garganta.
Por algum tempo, achei que ela fosse muda. Ou que tivesse um problema nas cordas vocais.
Recentemente, fuxiricando no site do Catster, descobri que os gatos “mudos” existem, não são poucos, e, na verdade, não são mudos! É só que o miado deles é emitido numa frequência inaudível para os ouvidos humanos. Somos nós, macacos pelados, que não ouvimos sua voz. A Cecília, ela, se ouve perfeitamente miar, e o irmão dela a ouve também. (É verdade, já vi a gata miando ar uma vez e o Sebastião se virou para trás, como se tivesse ouvido alguma coisa.)
O marido, que é meio paranóico, tem medo pânico de que um dia a gata fique trancada dentro de um armário ou alguma coisa e de que ninguém a ouça. Na verdade, isso já aconteceu uma vez – e quem a achou foi o outro gato, o que talvez prove a teoria do Catster. O Sebastião se plantou na frente da gaveta das cuecas do marido e miava, triste. Quando abrimos a gaveta, de lá saiu a Cecília, que deve ter ficado uma boa hora e meia presa com as meias soquete.
Além de paranóico, o marido tem outras coisas estranhas. Ouve interferências, onde ninguém mais ouve, como os miados da Cecília. Estávamos esses dias sentados catatônicos na frente da TV e de repente ele grita: que gente burra! Como podem chamar um sapato assim?
O sapato em questão era este, da marca Hetane:
E o problema todo reside, conta-me o marido, no fato de que, em japonês, hetane significa “que coisa mais mal feita”.
Pensando bem, talvez o publicitário encarregado da campanha dos sapatos fosse descendente de japoneses e soubesse muito bem o que estava fazendo quando escolheu o nome.
A história dos nomes de marcas que são um desastre em outras línguas é bastante rica. Um caso bastante famoso é da caminhonete Pajero, cujo nome, em espanhol, quer dizer “punheteiro”.
Ser casado com um professor de japonês tem seus problemas. Quando conheci o marido, eu tinha uma tatuagem na canela, que eu acreditava ser meu nome escrito em katakana. O marido tirou-me a ilusão com um risinho irritante: eu tinha escrito irreversivelmente na minha pele, não Marusero, como seria meu nome em japonês, mas manosero, uma palavra que, segundo consta, nem existe.
Sendo uma das poucas pessoas no mundo casada com um professor brasileiro de japonês, fui obrigado a mudar minha tatuagem – hoje tenho um gramofone onde antes havia um erro de ortografia.
5 comentarios:
Nada como um casal culto.
Gisele é barulhenta demais... mia, faz todos aqueles barulhinhos estranhos e divertidos quando vê insetos ou quer que troque a água, coloque ração e um escândalo quando a areia está suja... Mas já tive um gato que provavelmente era mudo, ou miava na frequencia que você comentou. Eles são fofos de qualquer jeito.
Bjs para todos, maridóns e gatos.
Hehehehehe!!!
Ótimas...!
E depois eu anda tenho que escutar um "Se eu fosse uma pessoa culta...". Não de ti, do marido.
Beijos aos dois.
Ai, que fofura! A Cecília tb não emite sons. Um dos meus gatos tb não mia. Minha mãe chegou a pensar que haviam feito alguma coisa com o Zac (Efron), que foi adotado já adulto...
Tatuar frase errada em japonês até vai (tampar o erro com um gramofone foi o máximo!), o pior é quando o erro é num bom (ou péssimo) português. Eu já vi.
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