Diva Divina
Ontem, fui ver a peça do Mario Vargas Llosa - La Señorita de Tacna - com Norma Aleandro.
A coisa mais incrível é a transformação de la señorita casadoira de 16 anos em uma velha centenária, apenas com o uso de um xale. Na peça, todas as personagens vão e vêm no tempo, chegando a parecerem atores diferentes. Só no fim do espetáculo notei que a atriz - Silvina Bosco - que faz a prima jovem e a prima centenária, estava grávida, bem grávida mesmo, com um barrigão.
Claro que tem coisas dispensáveis e um tanto melodramáticas, mas tudo bem, é teatro, e melhor no São Pedro. A história é meio comum - jovem escritor tenta contar a história da família (antes rica e próspera, agora decadente e falida) com base nas lembranças confusas de sua tia-avó. Segredos e pecadinhos do passado vêm à tona, enquanto os velhos travam suas batalhas - andar, manter a lucidez, comer a sopa rala, hacer pis en los calzones...
Uma das coisas que poderia atrapalhar é o sotaque portenho dos atores, mas, muito pelo contrário, a dicção é perfeita. Quando a centenária Mamaé (Mama + Elvira) murmura e resmunga é mais difícil. Já no Brasil, ator falando claramente é coisa bem difícil. Os porto-alegrenses gritam demais e têm aquelas vogais abertas irritantes. Os cariocas (vi a Joana Fomm em Duas x Pinter semana passada) têm tantos xis que é difícil de acreditar que estão sendo sinceros.
Atenção: maldade desnecessária a seguir: Não impede que, assistindo à Norma Aleandro, passou-me pela cabeça que, se a peça estivesse sendo apresentada em São Paulo, onde eles não sabem argentino, e não em Porto Alegre, todo mundo teria adorado -- paulista que vai a teatro adora coisa que não entende. Pior, iam achar tudo meio bergmaniano, porque castelhano pra paulista é sueco.
No Santander Cultural estão passando dois filmes de Norma Aleandro - O Filho da Noiva e Cleópatra. Duas comédias bem leves e gostosas de ver, ainda mais no cinema.
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