Ontem, eu fui à fruteira perto daqui de casa fazer comprinhas rápidas para a janta. Na fila estavam 5 guris de no máximo 15 anos, comprando chocolates, felizes da vida cantando: Agora tanto faz estamos indo de volta p’rá casa. What?!
A minha mana veio fazer panquecas aqui em casa. Quando voltei com o óleo para untar a frigideira das panquecas, comentei o ocorrido com a mana e o marido. Eles concordaram que o Renato Russo ainda fala direto aos adolescentes, talvez por ter tido uma adolescência conturbada (doente, feio, gay, inteligente, solitário...). Lembramos que a Globo passaria o especial sobre a vida do bardo e concordamos que deveríamos estar um poucos altos para assistir ao programa.
Panquecas e vinhos depois...
Discutimos se ouvir Legião Urbana é brega ou não. Tantas citações escritas em agendas, livros, cartões de aniversário, tantas letras que a gente decorou (Quem não se orgulhava de saber Faroeste Caboclo inteira?!), tantas mensagens que tentamos decifrar e tantas audições sofridas depois, talvez só o Renato não consiga me atingir da mesma forma.
Quem sabe isso faz parte de crescer e deixar para trás as conturbações e incertezas da adolescência? Não sei.
Uma coisa é certa, ficamos de alguma forma presos na adolescência. Pensem em quantos filmes sobre o primeiro amor, descobertas da adolescência, sobre sair do armário, sobre voltar ao colégio (Nunca fui beijada, né Drew?), em quantas festas retrô nós já fomos, quantos mp3 de época já baixamos e assim por diante.
Hoje, Legião Urbana me faz lembrar. Lembrar é bom, mas nem sempre essas lembranças são boas. Lembrei que uma colega de aula sofria muito pelo amor perdido ouvindo Por Enquanto.
Depois que a minha irmã foi para a casa dela, continuamos a conversa tentando descobrir o que permaneceu da obra russoniana.
O marido defendeu o Dois e o Quatro Estações como sendo os mais clássicos de todos. Eu defendi que, além desses dois, o primeiro disco do Legião (aqui a gente falava O Legião e não A Legião) era um clássico e tal.
Ouvimos o primeiro do inicio ao fim, são apenas 37 minutos. Ele se rendeu – o primeiro também é clássico e tem muita coisa boa ali, inclusive um The Cure forte.
Escrevi tudo isso para dizer que lembrei que a primeira vez que ouvi Soldados (faixa 3 do lado b) me dei conta que na época era isso mesmo... não sei armar o que senti não sei dizer que vi você ali. Quem vai saber o que você sentiu? Quem vai saber o que você pensou? Quem vai dizer agora o que eu não fiz? Como explicar pra você o que eu quis...
Essa passagem memorável da minha vida aconteceu quando eu tinha uns 15 anos, foi na época do lançamento do Que país é esse?, que eu ganhei no meu aniversário de 15. Lembro bem!
Nessa época, eu já sabia que não precisava que nossas meninas estivessem longe daqui, o que eu queria era mesmo o soldadinho de chumbo, o ... bem, deu pra entender, né?
Pensei em problematizar mais a questão, mas acho que esse exemplo tá de bom tamanho. Pode ser meio confuso, mas lembranças e sentimentos são sempre muito confusos no meu caso.
Mais que outros 15 anos se passaram, quase 20, e o que mudou? Hoje, eu não ficaria tentando armar o que eu senti, nem o que o tal soldado sentiu, foda-se o sofrimento, o negócio é fazer e não explicar o que eu quis, queria, quero (escolha o seu próprio tempo verbal).
Em vez de sofrer por Soldados, eu deveria ter tentado o Teorema:
Não tenha medo
Não preste atenção
Não dê conselhos
Não peça permissão
É só você quem deve decidir o que fazer
Pra tentar ser feliz.
Beijo Renato e obrigado por tudo.