Tá bem, eu gosto da Sofia Coppola, e daí?
Donatella promised me this one was exclusive!
Ela tem um histórico das pessoas não gostarem dela. A coisa mais interessante é que, a cada filme, as pessoas que não gostam dela não são as mesmas.
Em Contos de Nova Iorque, filme de papai, ela fazia o papel de uma menina mimada que dá de nariz com a vida e tem de ajustar os conceitos de improviso. Acharam que ela era feia (para as mulheres, ainda no início dos anos noventa, por incrível que pareça, tinha só duas categorias: bem sucedida e feia). Acharam que ela era sem graça. Acharam que ela era cabeluda. As pessoas que não gostavam dela eram fúteis e só se preocupavam com as aparências.
Depois, teve mais um filme de papai. Na época, odiaram. A crítica toda repetia as mesmas duas frases, Andy Garcia não é Robert de Niro (até aí, isso eu já sabia) e a Sofia Coppola consegue ser mais feia e mais sem graça do que a Diane Keaton (o que é a falta de imaginação de quem escreve notícia?). Que gente burra. Aliás, ninguém entende o Poderoso Chefão 3. É um dos grandes filmes da história do cinema, estruturado como uma ópera, e dizia mais horrores do Vaticano do que todas as fezes bibliográficas do Dan Brown. E aquela cena nas escadarias da Ópera de Palermo, de uma intensidade antigonesca, se não fosse Sofia, quem levaria aquele tiro (e vestiria aquele Versace de renda) com a mesma classe? As pessoas que não gostavam dela eram uns críticos de cinema velhos e desantenados.
Oh my God! That's not Marlon Brando!
E teve o primeiro filme distribuído comercialmente no Brasil, uma sinfonia eletrônica e visual em homenagem à pureza. As pessoas que não gostaram das Virgens Suicidas eram, em geral, rasas ou impacientes, ou pouco poéticas, ou ainda não gostavam da cor rosa. Eu gosto de poesia, de música eletrônica, de pureza e de rosa. Sofia tem um ano a mais de idade que eu, e gosta de coisas parecidas. Para a trilha sonora, ela convidou o Air, e alguém mais em Hollywood teve alguma idéia semelhantemente criativa no fim dos anos 90? Aposto dinheiros que ninguém.
Lost in Shinjuku
Depois teve aquele filme com o Bill Murray, e, dessa vez, meio que todo o mundo gostou dela, pelo menos assim da boca pra fora. Mas muita gente achou o filme bobamente autobiográfico, sobre uma menina perdida entre dois mundos, e um ator que não entende por que as pessoas não gostam dele. Acharam o filme raso e sem graça. As pessoas que não gostaram dela desta vez eram, em geral, machistas que acreditavam que todo o talento da moça era derivado do pai, ou do ex-marido, Spike Jonze.
Esta semana, o público do Festival de Cannes se reuniu inteiro para dizer que odiou, execrou, achou horrível, o último filme da minha querida Sofia. Estrelando Kirsten Dunst, é uma biografia punk-rock da última rainha do Ancien Régime francês, Marie Antoinette, uma austríaca filha de monarcas que se mandou para a corte de Versalhes ser esposa de um homem esquisito e inacessível, e que não era aceita pelo seu meio, e que terminou decapitada na guilhotina.
Qualquer semelhança terá sido mera coincidência.
Desta vez, quem não gostou foram os franceses. Acharam o filme pouco comprometido com a realidade histórica (duvido que Sofia tenha querido se comprometer com qualquer realidade que seja, uma vez que o filme é, pelo que pude avaliar do trêiler, estilizado, com créditos lembrando as capas dos Sex Pistols, cheio de anacronismos propositais à Derek Jarman e com trilha sonora incluindo um New Order do início de carreira). Sinceramente, nunca vi povinho que se leve tão a sério quanto essa gente que fala a língua de Saint Exupéry (e aquele príncipe bicha é pra gente achar que é super sisudo?). Então aquela revolução deles é tão sagrada que não possa ser objeto de sátira de estrangeiros? Mais um caso de dois pesos e duas medidas, pois os franceses defenderam quase unanimemente o direito daqueles cartunistas dinamarqueses de fazerem graça do Islã... Seja como for, tenho horror de gente que se leva a sério todo o tempo!
Estou louco para ver a Sofia nova! Viva a Maria Antonieta punk!